terça-feira, 10 de junho de 2008

Doenças características das diferentes comunidades

Cada comunidade apresenta um processo saúde-doença bem característico; uma vez que as patologias mais freqüentes dependem dos hábitos da população e do ambiente em que ela se encontra. Na comunidade do Espinheiro, a hanseníase é a patologia mais freqüente e mais intrigante, ela também está no foco da mídia; recentemente, o jornal Diário de Pernambuco publicou uma reportagem sobre a hanseníase.

HANSENÍASE
A doença mais antiga da história ameaça as novas gerações do Brasil
Por Marcionila Teixeira e Silva Bressa
(baseado na reportagem publicada pelo Diário de Pernambuco, do dia 18/05/2008)

O texto que se segue serviu de apoio ao grupo 6 em seu trabalho de educação em saúde. A escolha deste tema para o desenvolvimento do trabalho deve-se ao fato de que dois casos do mal de Hansen ocorreram na nossa comunidade – União das Vilas – ambos em crianças. Uma de nossas famílias visitadas tinha como membro uma menina simpática de 5 anos, que, devido aos maus cuidados da mãe – sua responsável – vivia perambulando pelos becos. Nós a encontramos assim: com a calça folgada, arrumada pela ACS que nos acompanhou. Essa mesma agente de saúde foi quem desconfiou de uma mancha nas nádegas da garota enquanto lhe dava banho.
Notamos nesta reportagem que a realidade vista na comunidade assola o nosso país. Por isso, achamos importante desenvolver um resumo sistemático da mesma enfatizando o caráter de resolução do desafio através da atenção básica. Devemos salientar que a organização por tópicos e os títulos destes ficaram por nosso encargo. Recomendamos a todos lerem a reportagem.

1. Introdução
Ela age em silêncio. Atinge o corpo, fere a carne e marca a alma. Nasce na falta de informação e de saúde básica. Alimenta-se da vida que rouba, aos poucos, de suas vítimas. Atinge adultos e, cada vez mais, jovens e crianças. Escondem-se na vergonha do preconceito. Ela é uma doença e também um nome. Palavra, carregada de estigmas, que corta como navalha. Mas é preciso lutar contra ela. Informar e desmistificar. Tirar os doentes do escuros dos seus quartos. Contar suas histórias. Ir além das estatísticas que, por sinal, são muito ruins. Dizer seu nome com coragem e sem preconceito: hanseníase.

2. A História
A Bíblia revela que, antes de Cristo, a hanseníase já era considerada uma praga. Os doentes eram isolados, as roupas queimadas e eles rotulados de “imundos”. O temor de pegar a lepra era ainda maior do que nos dias de hoje. Era interpretada como castigo divino ao vil pecador ou um teste para avaliar a fé e a resignação das pessoas de bem. Uma iluminura catalã do século 14 mostra imagem de Jô supostamente atingido pelo mal de Hansen, além da referência ao “mal de Lázaro”.
Acredita-se que a doença chegou ao Brasil com os portugueses em 1496. Os primeiros casos ocorreram no Rio de Janeiro (RJ), em Salvador (BA) e Recife (PE). Em 1740, o rei de Portugal, Dom João V, criou o primeiro plano para conter a hansen em terras brasileiras.
Em 1958, os cientistas chegaram à conclusão de que a doença não era hereditária e poderia ser curada com antibiótico. O médico Adolfo Lutz foi o pai dos estudos em medicina tropical no Brasil. Em 1962, deu-se oficialmente a extinção do isolamento dos doentes. Contudo, este persistiu desde a década de 20 até 1986, quando as colônias onde eram confinados os pacientes foram transformadas em hospitais gerais, cujos muros foram derrubados e os portões abertos.
Em 1976, o país tornou-se o único do mundo a usar o nome hanseníase em vez de lepra, em homenagem ao médico norueguês que descobriu o micróbio, Gerhard Hansen.
Em 1982, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a usar a poliquimioterapia no tratamento da patologia.

3. A Geografia
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking geral de casos descobertos anualmente. Só perde para a Índia, país asiático com densidade populacional 15 vezes maior e duas vezes mais pobre. E até a Índia cumpriu a meta definida pela OMS para eliminação da hanseníase, reduzindo as taxas à média aceitável de um caso por 10 mil habitantes. Das 193 nações do globo, apenas o Brasil, o Nepal, Moçambique e o Congo não atingiram o preconizado.
Nas Américas, dentre os seis países com maior incidência em casos absolutos da doença – Brasil, Argentina, Paraguai, Colômbia, México e Cuba – o nosso país lidera disparado. Dos 47.612 casos novos encontrados nessas nações, 44.436 são nossos; dos 3.655 casos encontrados em menores de 15 anos, 3.513.
O Nordeste brasileiro é a região que soma o maior número de novos casos de hansen nos últimos 15 anos. Em 2006, data da última estatística, foram mais de 17 mil. Também está na primeira colocação quando se trata de casos novos absolutos entre menores de 15 anos – 1.618 em 3.625 do país.
Pernambuco é considerado hiperendêmico entre os menores de 15 anos e tem taxas muito altas, quase hiperendêmicas, no quadro geral dos pacientes de todas as idades. O Recife lidera o ranking das capitais com maior taxa de pacientes por residência e com maior número de absoluto de casos novos entre menores de 15 anos (12,8% dos casos de 2007). O município de Lagoa Grande (Sertão) tem a maior taxa de novos casos registrados por anos: média de 12 por grupo de 10 mil pessoas. Os índices são altos em municípios pobres e ricos, como Ipojuca – da praia de Porto de Galinhas.

4. O Conhecimento Biomédico
A) O que é hanseníase? É uma doença infecto-contagiosa de evolução lenta e restrita a seres humanos.
B) O que a causa? Um bacilo chamado Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. Existem duas formas da doença: a paubacilar (que possuem poucos tipos desse bacilo) e a multibacilar (a forma contagiante, na qual o paciente possui vários tipos do bacilo).
C) Qual o modo de contagio? Somente por uma pessoa infectada com a forma multibacilar que não esteja em tratamento. A infecção só acontece com contato longo e íntimo. O bacilo é transmitido pelas vias respiratórias (fluidos nasais ou boca). Aparece de dois a sete anos depois do contato com o doente. Não é uma doença hereditária.
D) Quais são os sintomas? Os dermatológicos são caracterizados por lesões cutâneas com diminuição ou ausência de sensibilidade dada por alterações nos ramos sensitivos cutâneos. A sensibilidade pode vir acompanhada de formigamento, como uma coceira. As principais lesões são manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, pápulas (lesões sólidas com elevação superficial e circunscrita de até 1 cm), infiltração (alteração na espessura da pele de forma difusa), tubérculos (lesões sólidas semelhantes a um caroço externo) e nódulos (lesões sólidas de forma palpável e visível).
Os neurológicos são decorrentes de processos inflamatórios dos nervos periféricos (neurite), manifestada em processos agudos acompanhados por dores e/ou espessamento dos nervos, diminuição e/ou perda da sensibilidade e redução ou perda de força pelos músculos inervados por ele. Os principais nervos atingidos são o trigêmeo e o facial (na face), o radial, o ulnar e o mediano (nos membros superiores), o fibular comum e o tibial posterior (nos membros inferiores).
E) Quais os danos físicos que a doença pode causar? O tratamento tardio pode provocar dormência, pele seca, fraqueza. O nariz entope, surgem formigamentos nas mãos e pés, ou inchaço nestes, no rosto e nas orelhas. A pele pode sofrem ferimentos ou queimaduras devido à perda da sensibilidade. Há casos em que homens ficaram estéreis. Entre as deformidades estão úlceras, mãos em garras, pé e mão caídos, sem força, atrofias musculares, reabsorção óssea e articulações rígidas.
F) Quanto ao tratamento e à cura. Em 1982, a OMS recomendou um novo tratamento quimioterápico, a poliquimioterapia (PQT). A PQT é simples, eficaz e barata, completamente custeada pelo governo, podendo ser gratuitamente administrada nos postos e centros de saúde e nas unidades de saúde da família (USF). As formas paubacilares podem ser tratadas em seis meses, enquanto as multibacilares, em um ano. Mas, se o tratamento acontecer tarde, a pessoa pode ter seqüelas mesmo que a infecção tenha sido curada.

5) A Humanização do Conhecimento
Adenilson Silva, 12 anos, oriundo da cidade do Amapá do Maranhão, chorava distante de sua terra, de seu futebol com os amigos, da sala de aula, do forró que aprendera a dançar. Fora para São Luís (MA) para distencionar os nervos. Maria Vitória, com 4 anos, de Belém do São Francisco(PE), foi infectada quando mal sabia andar. Três crianças em Paulista (PE), um garoto de 9 e duas meninas de 15 e 12 anos, escondem o segredo da doença por temerem passar por preconceito igual ao vivido pela prima de 12 anos, que mudou de colégio após ser alvo de xingamentos.
A hanseníase não é uma doença da infância. É de adulto jovem. Pelas características e pelo tempo de incubação (estudos mostram que dura de dois a sete anos). A contaminação depende de cada organismo. Notificações como as acima citadas devem servir para se intensificar os programas de prevenção e tratamento (NOTA: de atenção básica. Se não houver seqüelas, o tratamento pode ser feito em nível de USF, como foi dito acima). Os casos em crianças e adolescentes representam 8% do total de pacientes que contraíram a doença em 2006, ano da última pesquisa feita pelo Ministério da Saúde. Esses casos são preocupantes porque estão ligados a fatores sociais (NOTA: grifo nosso), que escapam do controle médico. Envolvem problemas sócio-econômicos e culturais, como a mudança de hábito. As crianças estão em contato com o bacilo mais precocemente. Há 20 anos , as mulheres não trabalhavam. Hoje, a criança vai para uma creche comunitária, onde está a população menos favorecida.
De acordo com o coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Moreira, a falta de campanhas nacionais com veiculação da TV, promovidas pelo Governo Federal dificulta a compreensão e a cura do mal, além de promover o preconceito. Moreira diz que não houve campanha em 2007 e que havia promessas de que ocorresse em maio deste ano. (NOTA: Como vimos não houve campanha até este início de junho).
“O preconceito não é somente falta de informação sobre algo. Também está ligado às informações erradas. O combate à doença precisa de um esforço maior não só no número de informações, mas na qualidade educativa delas. É preciso haver prioridade”, defende.


Neste contexto, o grupo 6 de APS 1 desenvolveu seu projeto de educação em saúde, utilizando fantoches no intuito de focalizar crianças e mães da União das Vilas. Ele foi discutido a aprovado pela equipe de profissionais de saúde da Unidade referida. Será efetuado no dia 12 de junho deste ano, na Unidade.


GRUPO 6

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